quinta-feira, 20 de abril de 2017

Desonra - J. M. Coetzee (1999)

Literatura Sul-africana

Livro escolhido para a leitura do blog: Companhia das Letras, 264 páginas.
Edição de 2014


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David Lurie é um professor de literatura da universidade da Cidade do Cabo e grande apreciador da arte, principalmente dos grandes livros e da música erudita. Divorciado duas vezes e infeliz na sua profissão, ele ameniza a dureza do cotidiano na companhia de uma prostituta, Soraya. “Na cama, Soraya não é efusiva. Seu temperamento, na verdade, é bastante sossegado, sossegado e dócil. Suas opiniões são surpreendentemente moralistas. Fica ofendida com as turistas que despem os seios (‘tetas’, ela diz) nas praias públicas; acha que os vagabundos deviam ser recolhidos e postos para trabalhar, varrendo as ruas. Ele não pergunta como ela consegue coadunar essas opiniões com o tipo de trabalho que faz.”
Depois de Soraya abandonar David, ele se envolve com uma aluna, Melanie Isaacs. Abatido pelos mandamentos implacáveis do politicamente correto e pela repercussão desse envolvimento, ele se vê obrigado a se demitir e a procurar refúgio na fazenda de sua filha, Lucy, no Cabo Leste. No campo, David vai encontrar uma realidade diferente da que está habituado e suas ideias entrarão em conflito com os habitantes de lá.
Um dia, David e Lucy são atacados e roubados por três homens. David reage de uma forma muito diferente da de Lucy ao que aconteceu com eles, e isso acaba distanciando os dois. “Um risco possuir coisas: um carro, um par de sapatos, um maço de cigarros. Coisas insuficientes em circulação, carros, sapatos, cigarros insuficientes. Gente demais, coisas de menos. O que existe tem de estar em circulação, de forma que as pessoas possam ter a chance de serem felizes por um dia. Essa é a teoria; apegar-se à teoria e ao conforto da teoria. Não a maldade humana, apenas um vasto sistema circulatório, para cujo funcionamento piedade e terror são irrelevantes. É assim que se deve ver a vida neste país: em seu aspecto esquemático. Senão enlouquece. Carros, sapatos; mulheres também. Deve haver no sistema algum nicho para as mulheres e para o que acontece com elas.”
No tempo em que passa na fazenda, David irá passar por momentos de reflexão; ele passa por um momento de transformação desde o início do livro.

“Originalmente publicado em 1999, Desonra contrapõe as experiências dos personagens a uma realidade fendida entre o rural e o urbano, a bestialidade do apartheid e a sofisticação da cultura letrada, as raízes comunitárias ancestrais e o inferno da violência social.”



J. M. (John Maxwell) Coetzee nasceu na África do Sul, em 1940. Ele é formado em literatura e matemática pela Universidade da Cidade do Cabo. Aposentou-se em 2002 e desde então vive na Austrália, onde é pesquisador honorário de língua e literatura inglesa na Universidade de Adelaide. Recebeu prêmios na França, na Irlanda e em Israel, e foi o primeiro autor agraciado duas vezes com o Booker Prize (por Vida e Época de Michael K e Desonra). Em 2003, recebeu o prêmio Nobel de literatura.

O livro passa de uma leitura cômica e zombeteira sobre um homem divorciado tentando saciar seus prazeres sexuais para algo mais delicado e profundo que é a sobrevivência em uma África do Sul pós-apartheid.
No início do livro, David Lurie era quase que intragável, apesar de que eu estava me interessando pelo que estava acontecendo com ele, até porque não é tão raro assim casos de envolvimento de professores com alunos. Porém, ele foi um personagem que mudou muito depois de sua fuga para a fazenda da filha, e tive a impressão de que ele se tornou uma pessoa melhor.
Muitas vezes a reação de David e Lucy em relação ao que aconteceu com eles me irritava, mas o contexto do livro é uma realidade com a qual não estou nada familiarizada.
Foi uma ótima porta de entrada para a literatura africana.
Nota: 4/5

Laís Bechara

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