segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A Escrava Isaura - Bernardo Guimarães (1875)

Livro escolhido para a leitura do blog: Editora Centaur, 186 páginas.
Edição de 2011.





A história se passa no início do reinado de D. Pedro II, durante o período abolicionista. Tal obra é também um retrato da escravidão no Brasil, mais especificamente da relação dos patrões e sinhás com as jovens escravas durante essa época. É o retrato do racismo e do machismo.
Isaura é uma moça de beleza e dons considerados pelas pessoas como divinos e místicos, sendo constantemente chamada pelos homens de “fada” ou “deusa”. Logo no início do livro, tal beleza já é exaltada pelo autor no trecho:
“...sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e suaves essas linhas, que fascinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada.”
Esse trecho é apenas o início da exaltação da beleza de Isaura, pois ela continua por muitas linhas. Durante toda a obra, muito pouco se aprofunda na personalidade verdadeira dela, dando muito mais evidência aos seus traços físicos, dons como cantar e tocar piano, sua bondade, humildade e lealdade. Isaura é filha da bela mucama da esposa do Comendador; a mucama teve um destino terrível e violento ocasionado pelos abusos de poder do patrão e acabou morrendo.
A esposa do Comendador, por nunca ter conseguido dar à luz uma menina que chegasse a crescer e por gostar muito da sua antiga mucama, cria Isaura como se fosse a sua própria filha, com toda a fina educação que era exigido de uma moça da alta sociedade. A mãe adotiva de Isaura, por a amar muito e desejar sempre a sua companhia, fez com que Malvina, esposa do seu filho único Leôncio, prometesse que sua filha adotiva seria libertada após sua morte e que ela providenciaria a liberdade. Porém, o filho, um moço que gastava fortunas com a própria libertinagem e diversões, foi egoísta e quis manter Isaura como escrava para que ele tivesse a oportunidade de consumir à vontade seu crescente “amor” violento por ela.
Isaura, desesperada, sem esperança de ter a liberdade prometida e extremamente chateada com as constantes e pesadas investidas de Leôncio e de outros homens, que muitas vezes chegavam a denegrir e ofender a sua pessoa com seus comentários, confessa a seu adorado pai, Miguel, que seu maior desejo naquele momento seria fugir para bem longe, pois logo iria sofrer o mesmo destino terrível e cruel que sua mãe.
Após sua fuga com seu pai para bem longe, Isaura conhece Álvaro, um jovem muito rico, generoso e abolicionista, e os dois se apaixonam perdidamente. Depois que descobre a verdadeira origem de Isaura e a intensa procura de Leôncio pela sua escrava predileta, Álvaro vai fazer de tudo para libertar sua amada das mãos do seu algoz e tirano patrão.

Uma obra comovente e de fácil leitura, “A Escrava Isaura” me fez sentir muita raiva, revolta e nojo de muitos personagens. Apesar de não ter me apegado a nenhum personagem, nem mesmo à protagonista, me vi torcendo muito e constantemente por Isaura, por seu pai e por Álvaro.
Durante toda a leitura, nota-se muito a descrição da mulher idealizada pelos homens e senti que faltou ao autor o aprofundamento da personalidade de todos os personagens, pois na história há personagens interessantes que foram pouco abordadas. Percebi e deu para sentir o forte sentimento de posse e propriedade dos patrões em relação às escravas, o que gerava os abusos de poder e violência para com elas, e isso tudo era chocante e doloroso. As palavras e atitudes violentas descritas nos livros me fizeram imaginar perfeitamente as cenas e, muitas vezes, eu me senti na pele de Isaura. No geral, é um livro triste, mas com forte sentimento de esperança mesmo nas piores horas. Adorei ter lido!!!
Nota: 3,5/5

Luiza Côrtes

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