segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O Papel de Parede Amarelo – Charlotte Perkins Gilman (1892)

Livro escolhido para leitura do blog: Editora José Olympio, 110 páginas




Essa obra clássica da literatura feminista conta a história, em primeira pessoa, de uma mulher que se mudou com seu marido, John, para uma mansão de campo muito bonita e totalmente isolada, com um amplo jardim ainda mais bonito à sua volta. O marido, médico, tinha decidido que deveriam morar nessa mansão por três meses devido a uma doença indefinida - algo a ver com os “nervos” -  de sua mulher, porém, na verdade, ela sofria da enorme pressão da sociedade patriarcal, e no caso deste livro, de um casamento em que o homem tenta impor instruções específicas de comportamento à sua mulher, ignorando completamente a opinião dela.
Para tentar controlar e “proteger” melhor sua esposa, John obriga ela a ficar horas sozinha no quarto infantil do segundo andar que tinha uma grande cama pregada ao chão, grades nas janelas e um horroroso papel de parede amarelo enjoativo que tinha um padrão irritante, usando o argumento de que ele é um médico que sabia muito bem o que estava fazendo. Apesar do marido ser descrito muitas vezes na obra como amoroso e atencioso, podemos perceber a evidência de um relacionamento abusivo em que John não aceita que sua esposa argumente sobre o próprio estado de espírito, chamando-a de “tolinha”, de “sua menina que deve se cuidar por amor a ele”, rindo de todas as coisas que ela fala, mesmo que seja algo sério, a proibindo de realizar tarefas que desenvolve o lado intelectual e estimulante de uma pessoa, como escrever ou trabalhar, e a culpando por estarem naquela situação.
A narradora, ficando extremamente exausta de ficar sempre se contendo na frente de seu marido, começa a entrar em grave depressão depois de semanas confinada no quarto do papel de parede amarelo que começa a lhe causar aversão e fascínio ao mesmo tempo, e tenta se aliviar através da escrita no seu diário secreto, no qual lemos essa história.
A obra, que se passa no final do século XIX, conta como uma mistura da experiência da própria autora com um pouco de ficção e possui narração que lembra os contos de terror de Edgar Allan Poe. O padrão e a cor do papel de parede do conto é a metáfora da prisão das mulheres em relação à padronização da mulher-modelo da sociedade patriarcal e o pano de fundo da história que irá conduzir o destino da personagem principal enquanto ela sofre todos os dias com o machismo da sociedade.
O livro é muito interessante, li em poucas horas e me surpreendi no final. Como a obra tem muito a ver com a vida pessoal da autora, comecei a querer saber ainda mais sobre ela e sua vida como um todo. Charlotte Perkins Gilman teve uma história de vida emocionante e sofreu muito com as ameaças e críticas por ser uma mulher que não aceitava se encaixar nos padrões de mulheres exigidos pela sociedade, fazendo com que demorasse muito para que “O Papel de Parede Amarelo” fosse aceito por ser considerado muito “perturbante”, e quando sua obra alcançou a merecida notoriedade, ela tornou-se a obra-bandeira do feminismo americano. Eu adorei ter devorado essa obra pois ela é tocante e possui uma crítica muito forte e clara à sociedade patriarcal, achei-a maravilhosa! Torci muito pela personagem principal. Capa linda, conto profundo e interessante, e leitura gostosa.
Nota: 4,5/5

Luiza Côrtes

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